terça-feira, 26 de junho de 2012

Tablet Surface mostra o quanto a Microsoft quer se transformar na Apple

 Um convite enviado de última hora aos jornalistas e analistas, com apenas quatro dias de antecedência; a apresentação de um "grande produto", alardeado como "algo que você não vai querer perder", em um evento na costa oeste dos Estados Unidos; o presidente-executivo da companhia servindo como garoto propaganda do aparelho, elogiando o design e a estética e alardeando os componentes feitos de magnésio sinterizado.


 Seria fácil confundir a apresentação do tablet Microsoft Surface, em 18 de junho, com um evento da Apple --ainda que seja impossível imaginar o bombástico Steve Ballmer, da Microsoft, como um dos carismáticos executivos da rival.




Sim, a Microsoft decidiu competir no mercado do iPad; depois de anos contemplando o cenário, agora começou a correr atrás do setor de mais rápido crescimento no mercado da computação com o novo Surface.
 O mais fascinante no anúncio, porém, é que demonstra de modo dramático o quanto a Microsoft quer se transformar na Apple. A empresa que deu ao mundo o Windows, e enriqueceu com ele, sofre há anos de séria inveja da Apple. Quando Bill Gates ainda trabalhava em sua empresa em período integral, ele expressava irritação ao visitar a loja londrina da Apple em Regent Street, inaugurada no final de 2004. "É dessas coisas que precisamos!", ele se queixava, para desespero de seus asseclas, que preferiam não mencionar o fato de que a Microsoft não produzia coisas, como a Apple; produzia software. Além do Xbox, uma loja da Microsoft naquele período teria expostos apenas caixas e mais caixas de software e alguns mouses e teclados. Os laptops acionados pelo Windows eram todos fabricados por outras companhias, como a Dell e HP.
 E esse era um bom arranjo para a Microsoft: software é altamente lucrativo, porque, depois que você cria o original, o próximo bilhão de cópias custa praticamente zero, o que fez da Microsoft a companhia mais valiosa do mundo no final de 1999.
 No entanto, agora a Microsoft está esnobando as empresas que a tornaram rica ao fabricar todos aqueles computadores acionados pelo Windows; está imitando descaradamente a Apple, produzindo um aparelho do tamanho de um iPad, colocando seu nome nele, decidindo o preço e vendendo-o por meio de suas lojas, físicas e on-line. (Gates ficará contente.)
 Mas será que isso é apenas uma paixonite empresarial passageira? Ou algo de mais profundo? "Por que a Microsoft procuraria uma alternativa para o que foi o modelo de negócios mais brilhante do século 20?", indaga Horace Dediu, ex-executivo da Nokia que agora dirige a consultoria Asymco. Sua resposta: "Porque ele não funciona mais".
 Dediu afirma que isso se deve à ascensão da mobilidade --o fato de que cada vez mais usamos tablets e celulares inteligentes para trabalhar em qualquer lugar e a qualquer hora, enquanto dez anos atrás estaríamos todos sentados diante de um computador de mesa ou laptop. Agora, iPads são usados para criar arte ou armazenar manuais de voo para pilotos. E quase 1 milhão de celulares equipados com o sistema operacional Google Android são ativados a cada dia.
 A mobilidade ganha cada vez mais importância. Os celulares inteligentes superaram os computadores pessoais em volume de vendas no final de 2010; e, ainda que os tablets só existam há dois anos, um total de 108 milhões deles deve ser vendido este ano (ante cerca de 400 milhões de computadores); o grupo de pesquisa IDC elevou sua projeção pouco antes do anúncio da Microsoft, e vem reduzindo constantemente suas projeções de venda de computadores, enquanto eleva as de tablets.
 "O ritmo de crescimento dessas plataformas é quase vertical", diz Dediu. "O do Microsoft Windows mal mostra elevação".
 O Google está seguindo o mesmo caminho. Tomou o controle da Motorola Mobility, fabricante norte-americana de celulares inteligentes e tablets, e deve anunciar neste mês um tablet de sete polegadas com sua marca. (Larry Page e seus colegas não ficarão contentes por a Microsoft ter roubado a cena; Ballmer, que odeia o Google, ficará deliciado; e isso também pode explicar por que o anúncio foi feito às pressas.)

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