segunda-feira, 2 de julho de 2012

"Tablet Nexus 7 serve como modelo para indústria", diz brasileiro chefe do Android

 O mineiro Hugo Barra, 35, foi um dos astros do principal evento do ano do Google, na semana passada, ao tomar o palco para lançar o primeiro tablet da gigante de buscas, o Nexus 7, e uma central de mídia, o Nexus Q.

 Na empresa desde 2008, o diretor de produtos para Android afirmou que o tablet é um "modelo para a indústria e não algo para vender 100 milhões" de unidades.



Em entrevista exclusiva à Folha, Barra falou da importância do Brasil e da mentalidade de trabalho numa das firmas mais poderosas do mundo, além de propagandear o tablet Nexus 7. "Cabe em qualquer lugar", disse, numa sutil indireta ao concorrente iPad, colocando o aparelho no bolso de trás do jeans. "Estou sem cinto e a calça não caiu."

Leia a seguir os principais trechos da conversa com o executivo.

MERCADO DE HARDWARE

 Não descreveria isto [Nexus 7 e Nexus Q] como uma entrada no mercado de hardware. O tablet é uma parceria com uma fabricante de hardware, a Asus. Não é uma mudança estratégica.

 Para ser bem claro, o objetivo desse modelo é mostrar a direção para a indústria. Não é vender 100 milhões de aparelhos. É dizer que a gente acha que um tablet de sete polegadas, com processador de núcleo quádruplo e tela HD, é uma excelente ideia.

 Agora, a HTC, a Samsung, a Motorola e a LG podem pegar este modelo e melhorar, especializar.

RIVAIS DO NEXUS 7

 É uma oportunidade não capturada no mercado. Claro, existem produtos parecidos, mas não um que seja pequeno, leve, portátil e extremamente poderoso. Este é o primeiro.

 O público alvo é extremamente amplo por causa do preço. Para ler livro na cama, é fantástico. Você deita de lado e o negócio não cai na sua cara, não é grande demais.

TENDÊNCIAS DO BRASIL

 Nossos serviços estão crescendo absurdamente no Brasil. O processo de inclusão digital é uma coisa sem igual porque o mercado é muito grande, e a velocidade [de expansão] é extrema. O Brasil cresceu em número de Androids quase seis vezes nos últimos 12 meses.

 O brasileiro está comprando smartphone sem pensar duas vezes. O cara que talvez tenha internet discada em casa ou que talvez vá ao cibercafé agora tem internet no bolso, 24 horas por dia.

 É a tendência mais importante para o Google do que acontece no Brasil. E a adoção de todos os nossos produtos está subindo rapidamente devido ao fenômeno Android.

BRASILEIROS NO VALE DO SILÍCIO

 Tem pouco brasileiro no Google. Em geral, os brasileiros que trabalham em companhias como o Google ou que estudaram nos EUA têm uma característica de serem globais por natureza, são descolados, não são bitolados em nenhum aspecto social, cultural ou religioso.

 A gente se relaciona muito melhor com o resto do mundo do que praticamente qualquer outra nacionalidade.

TRADUTOR DE VOZ SIMULTÂNEO

 É um problema muito complicado porque é um processo de duas pernas: fazer a transcrição do que foi falado e converter este texto para outro idioma. São processos que têm um grau de erro que varia de 5% a 25%. E quando você junta esses dois graus de erro, pode ser significativo.

 Então estamos criando uma abordagem diferente, muito mais sofisticada computacionalmente, e é isso que está levando tempo. Já fiz uma previsão que não deu certo [2001], não vou fazer outra [risos]. Mas é um problema muito importante no qual estamos trabalhando.

TRABALHAR NO GOOGLE

 É muito diferente. O Google recruta pessoas com perfil empreendedor. Não no sentido do cara que quer fazer uma empresa própria, e sim gente que é pau para toda obra. Pessoas com uma capacidade e interesse intelectual para um grande número de coisas.

 Todo mundo faz um pouco de tudo, dá opinião em tudo. Isto pode às vezes ser um pouco caótico, mas no final das contas é muito bom.

MOTOROLA

 A Motorola não é diferente para nós de nenhuma das outras parceiras. Claro que existe uma relação de... nós somos acionistas deles, mas a companhia opera de forma completamente separada, é outro escritório. O meu crachá não funciona lá, o deles não funciona no Google.

 É uma relação arquitetada especificamente para manter uma distância bem rigorosa. Nós não trabalhamos mais próximos deles hoje do que trabalhávamos quando eles eram uma companhia completamente independente. Os nossos planos com a Motorola não são diferentes dos nossos planos com a Samsung, Asus, HTC, LG. Mesma coisa.

ANDROID X OS

 Tem muita gente fazendo aplicativo primeiro para Android [antes de fazer para iOS, sistema móvel da Apple], é uma tendência que está, sim, se concretizando. Tenho vários, vários exemplos, como a Spacetime Studios que fez sua versão nova do jogo Pocket Legends para tablet primeiro no Android. Nem saiu em iOS ainda. Os números são muito claros, são mais de 400 milhões de Androids.

FIM DO GOOGLE MAPS NA APPLE

 É uma decisão perfeitamente compreensível, é o negócio deles. Como a gente encarou? A gente continua investindo onde achamos que a nossa inovação vai chegar aos usuários, que é nos mapas do Android.

 Sem nenhuma sombra de dúvida, é o melhor aplicativo de mapas do mundo. É um esforço absolutamente gigantesco, vai levar muito tempo para qualquer outro nesse segmento conseguir fazer.

CRIANDO A APRESENTAÇÃO

 É bem caótico, não é uma coisa mega organizada porque não é da nossa cultura planejar com seis meses de antecedência. Não. A gente faz da forma que a gente está acostumado a trabalhar no Google, que é muito mais... como diria... muito mais relaxada e espontânea. Muito mais do que eu acho que as pessoas imaginam.

 O grande desafio dessas apresentações no Google, e acho em geral nas empresas de tecnologia, é que as personalidades dos engenheiros que criam os produtos geralmente não são personalidades de palco. O grande desafio é pegar esses caras e transformá-los, nem que por cinco minutos, em estrelas de palco.

 A gente criou o "keynote" [apresentação principal] em duas semanas. Todo o mundo que trabalhou na apresentação trabalha nos produtos, com exceção de um cara que a gente pegou para escrever, um roteirista que é um cara do nosso grupo de RP, que é muito bom. A gente escreve tudo junto e ele empacota.

 É super divertido, a gente pega uma sala de conferência no escritório, às cinco da tarde a gente começa a trabalhar, vai até meia-noite. No dia seguinte, volta, trabalha durante o dia, depois senta para falar sobre a apresentação. Depois escreve, apresenta, traz alguém que não conhece o produto, pergunta o que acha, vê o que funciona, vai afinando.


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